A servidora da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), farmacêutica-bioquímica Valquíria Martins, teve publicado, na semana passada, o artigo “Presença de HPV com superexpressão da proteína p16INK4a e infecção por EBV no câncer peniano – uma série de casos da Amazônia brasileira”, na revista científica internacional “Plos One”.
Valquíria Martins conta que a pesquisa analisou 47 amostras de pacientes com câncer de pênis, maiores de 18 anos, com diagnóstico confirmado e com indicação de penectomia – cirurgia para a retirada total ou parcial do pênis.
Os resultados da pesquisa, conforme a farmacêutica-bioquímica, demonstraram que 45% a 50% dos casos de câncer de pênis no Amazonas são ocasionados pelo Papilomavírus humano (HPV), que também é responsável por 98% dos cânceres de colo de útero. Segundo ela, o HPV 16 – classificado como de alto risco – foi observado em 13 pacientes, assim como o tipo 51, entretanto em menor número de amostras.
De acordo com Valquíria Martins, outro dado relevante observado foi a presença do vírus Epstein-Barr (EBV) como possível agente potencializador do câncer de pênis e como coinfecção com o HPV, respectivamente, em 30% e 25% dos pacientes. Ela ressalta que, apesar desse vírus infectar células epiteliais da orofaringe, o mesmo tem sido encontrado em cânceres de pênis, mama e gástrico.
Prevenção – A pesquisadora aponta que o conhecimento sobre a diversidade viral nas amostras tumorais de pênis pode ter grande impacto no delineamento de estratégias na prevenção e tratamento desta neoplasia. “E, em resumo, nossos resultados mostram que pacientes com HPV+ têm em geral tumores de baixo grau”, explicou.
Ela diz que o conhecimento da etiologia do câncer de pênis está longe de ser definitivo. Por isso, o papel individual ou sinergismos dos vírus oncogênicos conhecidos, como HPV e EBV, no início de eventos carcinogênicos ainda não está bem definido. No entanto, os dados mostram o perfil de infecções oncogênicas virais e a realidade dessa neoplasia em indivíduos da Amazônia.
Parceiros – De acordo com a diretora de Ensino e Pesquisa da FCecon e docente que orientou a pesquisa, Kátia Torres, a FCecon contou com vários parceiros para a realização do estudo, por exemplo, dos Laboratórios de Virologia da Fundação de Medicina Tropical – Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), de Biologia Molecular da Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta (Fuam), do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT-USP) e do A.C Camargo Câncer Center, além de ter contado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
“Essas instituições foram fundamentais para a execução do projeto, por exemplo, na disponibilização de estrutura laboratorial e no compartilhamento de conhecimento técnico na identificação de vírus oncogênicos nas amostras de câncer de pênis. Também foi primordial a participação de estudantes de graduação ligados ao programa de Apoio a Iniciação Científica (Paic) ligado à Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas)”, reconheceu.
Doutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias, Kátia Torres acredita que o trabalho foi audacioso em sua abordagem. Segunda ela, o câncer de pênis é considerado raro no mundo e em algumas regiões do Brasil, contudo é frequente no Norte e Nordeste, o que motivou os estudos no Amazonas. “Hoje, contamos com um banco de dados com análise de prontuários de mais de 100 pacientes sobre a relação com esse tumor”, afirmou.
O banco de dados, ressalta Torres, é importante em nível nacional e internacional, uma vez que são informações que vêm sendo acumuladas há dez anos. Ela ressalta que há um grupo de pesquisa da Bélgica e em Ribeirão Preto (SP) contribuindo com as análises desse banco. “A Fcecon, com esse estudo, demonstra que com articulação e parcerias se faz pesquisa e, assim, é possível tornar-se referência nos estudos de câncer de pênis”, comemorou.
Reconhecimento – A revista científica “Plos One” é considerada nível A1 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ou seja, top de linha. O artigo de Valquíria Martins é o resultado da tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada da Universidade Federal do Amazonas (PPGiba/Ufam), defendida em dezembro de 2019. A pesquisa foi orientada pela Diretora de Ensino e Pesquisa da FCecon e docente do PPGiba, Kátia Luz Torres.
FOTO: Divulgação/FCecon