Um estudo experimental, realizado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), relata que a fibrose hepática, doença que precede a cirrose, influencia no desenvolvimento e progressão da periodontite apical crônica, inflamação que acomete a região periapical da raiz dentária, em decorrência da necrose pulpar por trauma ou infecção.
O estudo, publicado no periódico científico “International Endodontic Journal”, investigou, em linhagem de ratos Wistar, a inter-relação entre a fibrose no fígado com a progressão da periodontite apical e, assim buscou entender os mecanismos pelos quais essas doenças interagem entre si. A pesquisa foi fundamentada a partir de estudos anteriores realizados em modelos animais que avaliaram a correlação entre as infecções orais e as desordens sistêmicas.
Trata-se de um primeiro estudo a respeito do tema, realizado pela pesquisadora Cristiane Cantiga da Silva como dissertação do Mestrado em Endodontia pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Odontológica. O projeto “Influência da fibrose hepática no desenvolvimento e progressão da periodontite apical. Análise histológica e imunoistoquímica em ratos Wistar” foi desenvolvido na Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba (FOA-Unesp/SP), por meio do Programa de Bolsas de Pós-Graduação em Instituições fora do estado do Amazonas (PROPG-Capes/Fapeam), Edital nº 006/2018.
Para a autora, os achados são importantes para dentistas – principalmente os endodontistas, especialistas em tratamento endodôntico, popularmente conhecido como “canal” – e médicos entenderem que as doenças sistêmicas não podem ser tratadas de forma dissociada do acompanhamento odontológico, bem como as infecções orais e seus processos inflamatórios podem refletir na gravidade de doenças sistêmicas, como tem sido confirmado no diabetes.
Periodontite – Periodontite apical é uma doença crônica desencadeada na maioria das vezes por uma lesão de cárie não tratada, por meio da qual as bactérias invadem os sistemas de canais radiculares (canal), levando à morte da polpa dentária e, posteriormente, à destruição do tecido ósseo periapical que envolve a raiz do dente.
Metodologia – Para observar a correlação entre influência da fibrose hepática na severidade da periodontite apical, os pesquisadores dividiram 40 cobaias em quatro grupos (n=10): Grupo C – ratos controle; Grupo PA – ratos portadores de Periodontite Apical; Grupo FH – ratos portadores de Fibrose Hepática; Grupo PA+FH – ratos portadores de PA e FH. A FH foi induzida pelos métodos químico e cirúrgico associados.
Ao final de um período de 60 dias, ao analisar tanto as amostras de tecidos hepáticos (fígado) quanto dos primeiros e segundos molares dos ratos, os pesquisadores observaram, nos animais em que ambas as doenças estavam presentes, o aumento de células inflamatórias, o aumento das citocinas (IL-1β, IL-6 e TNF-α), que são marcadores inflamatórios envolvidos na resposta imunológica e o aumento da destruição do osso periapical.
A partir dos resultados obtidos, os pesquisadores concluíram que a fibrose hepática influencia na severidade da periodontite apical. A relação é evidenciada pelo aumento significativo de células inflamatórias e da reabsorção óssea periapical nas lesões dentárias dos ratos com fibrose, quando comparado aos resultados obtidos nas análises de ratos com lesões dentárias, porém sem a fibrose hepática.
Importância – Os estudos sobre a medicina endodôntica têm grande importância clínica, científica e são realizados desde o século passado. No entanto, foi nos últimos dez anos, em decorrência de investigações sobre a doença periodontal, que as pesquisas aumentaram significativamente.
Com base nessas evidências, o endodontista pode criar protocolos de atendimento que favoreçam o tratamento endodôntico, não somente pela adequação da saúde oral, mas também encaminhando o paciente ao médico especialista para que a sua condição sistêmica seja tratada e acompanhada. O tratamento endodôntico, associado ao equilíbrio do sistema imunológico, pode favorecer o reparo da periodontite apical.
Premiações – Durante o período do mestrado, sendo bolsista da Fapeam, a amazonense Cristiane Cantiga recebeu oito premiações por trabalhos apresentados em congressos locais e nacionais. Em 2018, foi premiada em 1º lugar na categoria pesquisa científica no Congresso Brasileiro da Sociedade de Endodontia – SBEndo.
Em 2019, o trabalho com os primeiros resultados de sua pesquisa no mestrado lhe rendeu o 2º lugar na categoria de sua área em apresentação oral na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, e em 2020, a apresentação de todos os resultados de sua pesquisa lhe trouxeram o 1º lugar na mesma categoria.
PROPG-Capes – O objetivo do Programa é conceder bolsa de mestrado e doutorado a interessados residentes no estado do Amazonas há no mínimo 4 (quatro) anos, matriculados em curso de pós-graduação stricto sensu, em Programa de Pós-Graduação recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em outros estados da Federação, em áreas estratégicas nas quais o estado do Amazonas ainda não possui programas de pós-graduação em nível de mestrado ou doutorado.
FOTO: Acervo da pesquisadora