Incentivado por professora, ele e outros dois colegas abordaram temas de Química no Programa Ciência na Escola
Depois de mais de 30 anos longe da escola, o carpinteiro piauiense Carlos Barbosa de Medeiros voltou à sala de aula para concluir o Ensino Médio. A retomada nos estudos o levou aos primeiros passos na pesquisa científica, e ele quer ir além. “A gente não vive sem a Ciência, é ela quem segura o mundo”, enfatiza o estudante.
Carlos é aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Escola Estadual (EE) Cacilda Braule Pinto, na zona leste de Manaus. Ele conta que sempre teve vontade de seguir estudando e conseguiu voltar ano passado, incentivado pelas duas filhas universitárias.
Mesmo se sentido deslocado por estar acima da média de idade dos colegas, o estudante se dedicou em tudo, inclusive no projeto “Quimicamente falando: transformação da linguagem cotidiana em linguagem científica, como aprendizagem significativa para a Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, defendido no Programa Ciência na Escola (PCE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), no ano passado.
“Eu quis aumentar meus conhecimentos, e a pesquisa em si me surpreendeu muito. A minha parte foi sobre os frutos da região Norte e foi muito educativa. Eu tinha essa vontade e curiosidade de estudar. No meu tempo de moleque já eram divididas as classes, e quem estudava era quem tinha posses, então essa era uma lacuna que faltava preencher”, confessa Medeiros.
Carlos conta que conseguiu bolsa parcial de estudos para cursar Pedagogia, Serviço Social e Psicologia em universidades privadas da capital, mas vai prestar o vestibular novamente após concluir a EJA e ter o certificado de Ensino Médio para apresentar na matrícula da universidade.
“Se eu continuar lúcido, do jeito que estou, quero estagiar e trabalhar com Educação. Às vezes, as pessoas se acham velhas demais, têm medo, e o meu conselho é para expulsar esse medo e ir atrás, ficar entre os jovens, aprender”, avalia o estudante.
Adaptação – A professora de Química Alyne Ribeiro foi quem incentivou Carlos a participar do projeto. Ela diz que é necessário que o docente perceba o público da EJA, composto por alunos jovens, recém-saídos do ambiente escolar, e também por pessoas mais velhas, que estão sem o contato com estudo há muito tempo.
“É necessário compreender que muitos deles, a maioria na verdade, infelizmente teve que abrir mão dos estudos, por conta do trabalho. A bagagem deles, de histórias, mesmo com as dificuldades deles, é cheia de força de vontade. O tempo deles é diferente do nosso. Eu sinto que estou ensinando meu pais, que estão nessa faixa etária. Eu fiquei encantada com o seu Carlos, ele foi fantástico em todas as etapas”, aponta a professora.
Para Alyne, a motivação é uma grande aliada dos docentes e discentes, pois existe o cansaço físico, a vergonha e adaptação dos conteúdos, e as formas de explicar são importantes no processo.
PCE – O Programa Ciência na Escola (PCE) é um programa criado pela Fapeam, desenvolvido em parceria com as secretarias de educação estadual e municipal, que visa ampliar a difusão de pesquisa científica e inovação tecnológica por professores e estudantes. Este ano o programa teve recorde em submissões de propostas.
FOTOS: Lincoln Ferreira/Seduc-AM