Projeto desenvolvido com apoio da Fapeam analisa espécies vendidas em comércios da região do Médio Solimões
O Amazonas se destaca na produção e consumo de pescado no Brasil, fazendo da pesca importante fonte de renda e de alimento para a população do estado. Diante deste cenário, um grupo de pesquisadores apoiados pelo Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), está desenvolvendo um projeto que busca analisar geneticamente o pescado comercializado na região do Médio Solimões, a fim de reduzir fraudes e equívocos no comércio, garantindo a segurança alimentar.
A atividade vem sendo executada com recursos do edital nº 001/2021 – Fapeam Mulheres na Ciência e desenvolvida por profissionais do Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
De acordo com a pesquisadora Natasha Verdasca Meliciano, coordenadora do projeto, é comum a existência de irregularidades e erros no comércio de pescado, podendo abranger toda a cadeia produtiva da pesca, que vai desde o processamento até a casa do consumidor. Isso acarreta uma necessidade cada vez maior de métodos que atestem a procedência, qualidade e a segurança alimentar dos produtos derivados do peixe.
“É com essa preocupação de análise da cadeia produtiva de pescado, e também com a preocupação de conservação das espécies que são comercializadas, que o projeto vem fazendo uma análise genética do pescado que é comercializado, principalmente em mercados populares na região amazônica, mais especificamente no Médio Solimões, onde a gente sabe que a fiscalização é mais difícil e o comércio menos regulado”, explica.
De acordo com a coordenadora, dentre as principais fraudes praticadas na indústria de pescado, destacam-se a troca de espécies, erro na rotulagem e o uso de aditivos, que podem ocorrer por fatores como equívoco, tentativa de aumento da lucratividade, ou a fuga de taxações das espécies fiscalizadas.
Nesse contexto, os pesquisadores estão atuando na análise de pescados, tanto processados quanto não processados, sendo verificado o nível de concordância do que está no rótulo em comparação ao que o vendedor alega. A partir disso, é feita uma análise genética utilizando uma técnica chamada DNA Barcode.
“DNA barcode é uma técnica que visa fazer uma identificação genética das espécies através de um código de barras baseado no DNA. É uma técnica que já está sendo utilizada com esse objetivo, de identificar produtos de origem animal que estão na cadeia produtiva e estão sendo comercializados para fim de rastreio e de análise do que realmente está sendo vendido e chegando nas mãos dos consumidores de maneira geral”, explica a pesquisadora.
Coleta – A coleta dos pescados analisados vem sendo feita em mercados populares da região do Médio Solimões, nos municípios de Tefé, Coari, Codajás, Anori e Anamã. A proposta é fazer a coleta dentro e fora do período de fiscalização, para avaliar se a ação dos órgãos públicos pode interferir nos casos de fraude, e também analisar como o comércio se comporta nesses períodos.
“A ideia é fazer o levantamento sobre alguns grupos que a gente sabe que têm muita dificuldade de identificação e de erro de rotulagem. A gente sabe, por exemplo, que entre os pacus existe muita troca, os acarás, alguns bagres, então vamos fazer o levantamento em alguns grupos que a gente sabe que têm mais conflito”, esclarece a coordenadora.
A pesquisa espera contribuir para a detecção de práticas ilegais e trazer melhorias na organização de como é comercializado o pescado. “Isso também vai trazer maior profissionalização e credibilidade à cadeia produtiva e vai influenciar na segurança alimentar que vai trazer maior qualidade e padronização para o que é comercializado como pescado no Amazonas”, conclui a pesquisadora.
FOTOS: Natasha Meliciano/Arquivo Pessoal