Manaus recebe, no próximo domingo (14), um de seus nomes literários mais prestigiados: Milton Hatoum. O escritor lança “Dança de enganos” (Companhia das Letras) e “A natureza como ficção” (Editora Valer) em um encontro gratuito, às 10h, na Valer Teatro, no Largo de São Sebastião.
Autor de obras fundamentais da literatura brasileira, como Relato de um certo Oriente e Dois irmãos, Hatoum participa de uma manhã de autógrafos, conversa com o público e apresentação dos novos títulos. Será uma oportunidade para leitores, estudantes e admiradores acompanharem de perto a produção mais recente do romancista amazonense, cuja escrita ultrapassa fronteiras e ganha leitores em diversos idiomas.
Para Neiza Teixeira, coordenadora editorial da Valer, doutora em Filosofia e autora de Poetas, filósofos e xamãs – um encontro com a palavra, receber Milton Hatoum no catálogo da editora reforça a relevância do escritor no cenário mundial, brasileiro e amazônico.
“É uma honra e um momento de intensa alegria. Milton Hatoum, além de ser o escritor que é, é um ser humano encantador e defensor das pessoas mais desfavorecidas. É uma das vozes mais fortes em favor da Palestina. Isso aprofunda o seu valor, especialmente como alguém atento ao seu tempo, com coerência e argumentos em defesa de vozes nunca ouvidas”, afirma.
No livro A natureza como ficção, Hatoum analisa a representação da floresta amazônica nas obras A selva, de Ferreira de Castro, e Mad Maria, de Márcio Souza. O autor destaca como as duas narrativas tratam a oposição entre barbárie e cultura — temas apresentados de maneiras distintas, mas sempre impactantes.
A obra examina personagens nativos e migrantes que chegaram para construir a ferrovia Madeira-Mamoré ou para trabalhar no seringal Paraíso, símbolo do auge da economia da borracha. O estudo comparativo funciona como convite à leitura dos dois autores, separados pelo tempo, mas igualmente atentos às particularidades do território amazônico.
Já o romance Dança de enganos retoma o universo da trilogia O Lugar Mais Sombrio, agora com um drama familiar marcado por tensões políticas e afetivas. Com o olhar de Lina, mãe de Martim, o leitor retorna ao fim dos anos 1960, período em que a distância entre mãe e filho cresce em meio à ditadura militar.
A narrativa revisita relações, perdas e ausências. Lina recompõe a própria história e a de figuras que a cercam — Dácio, Ondina, Delinha e Leonardo — formando uma galeria de personagens que atravessam o romance como sombras de um longo sonho. A presença de Martim, protagonista dos livros anteriores da trilogia, aparece de forma indireta, mas decisiva.
“Nem todas as dúvidas são vazias”, escreve Lina, em um texto que ecoa referências de Conrad e Juan Carlos Onetti. A pergunta que move o romance é clara: o que a memória decide esquecer?
Sobre o autor
Nascido em Manaus, em 1952, Milton Hatoum estudou arquitetura na USP e estreou na literatura com Relato de um certo Oriente (1989), vencedor do Jabuti. Dois irmãos (2000) ganhou adaptações para TV, teatro e quadrinhos. Cinzas do Norte (2005) recebeu os prêmios Jabuti, Livro do Ano, Bravo!, APCA e Portugal Telecom. O autor também publicou A cidade ilhada (2006), Órfãos do Eldorado (2008), Um solitário à espreita (2013) e A noite da espera (2017). Sua obra já foi traduzida em 14 países e rendeu, em 2018, o prêmio Roger Caillois.
Serviço
O quê: Lançamento dos livros Dança de enganos e A natureza como ficção, de Milton Hatoum
Quando: Domingo, 14 de dezembro de 2025, às 10h
Onde: Valer Teatro – Largo de São Sebastião
Quanto: Entrada gratuita
