Mateus perdeu o contato com suas irmãs aos 9 anos, quando foi vítima de trabalho infantil

Resgatar o contato familiar é umas das missões das equipes técnicas que atuam nos centros socioeducativos da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc). Entre os internos, há muitos que perderam o contato com seus familiares. Este é o caso de Mateus, de 14 anos, que, desde os 9, não sabia o paradeiro de seus parentes. Mas, no final do mês de julho, profissionais que atuam no sistema promoveram um reencontro do adolescente com duas de suas irmãs.

Mateus é natural de Santarém, município do estado do Pará, e ainda criança veio para Manaus com uma tia-avó. No processo, acabou ficando com uma família onde uma usuária de drogas passou a explorá-lo com trabalho infantil. Ele vendia adesivos pelas ruas de Manaus junto com uma de suas irmãs, não frequentava a escola, e todo o dinheiro arrecadado era para sustentar o vício da mulher. Então, passou a morar nas ruas, chegou a ficar em abrigos e perdeu o contato com familiares até entrar no sistema socioeducativo.

O secretário William Abreu, titular da Sejusc, explicou que os profissionais que atuam nas unidades socioeducativas do Estado estão preparados para realizar o resgate do vínculo familiar. Segundo ele, é um trabalho árduo que conta com o apoio de uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e advogados, que visam o restabelecimento dos laços familiares.

A secretária executiva de Direitos da Criança e do Adolescente da Sejusc, Edmara Castro, destacou que é de extrema importância que a convivência familiar seja fortalecida. Ela esclarece que a família é um dos pilares da socioeducação junto com a educação e a parte espiritual.

“Nós realmente fizemos com que ele reencontrasse a sua família. Ele é um adolescente que teve uma infância institucionalizada, passou por diversos abrigos, passou um tempo na rua, e foi muito importante a gente encontrar a família porque, não só o Estado tem o papel na socioeducação, mas o próprio ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] traz que é obrigação da família trabalhar esse adolescente para que ele não volte a praticar atos infracionais”, disse a secretária.

A psicóloga Rosicleide Nascimento Conceição, do Centro Socioeducativo Senador Raimundo Parente, destacou que, durante o trabalho de acolhimento do Mateus, realizaram processos até iniciar a busca ativa do paradeiro da família. A pista que levou até as irmãs surgiu em um dos abrigos por onde ele passou.

Reencontro – As irmãs Franciane, 21, e Francineide, 19, relataram que estão felizes por rever o irmão. Conforme elas, ainda há outros – não sabem totalizar quantos – para serem encontrados, além dos pais. Delas, a que teve maior contato com Mateus, quando eram crianças, foi Franciane. Ela vendia junto com o irmão adesivos pelas ruas de Manaus e também chegou a ser explorada. Hoje, casada e mãe, ela conta como foi receber a ligação da equipe de técnicos do centro socioeducativo sobre o paradeiro de Mateus:

“Não vou mentir, foi um choque porque não sabia se o Mateus estava vivo ou como ele estava. Foi quando foram em casa [a equipe], conversaram com a gente, e falaram que ele estava bem. Ficamos felizes e viemos visitá-lo”, disse Franciane.

Francineide contou que o irmão ficou calado em parte do reencontro, mas que era possível perceber que estava feliz. “Ele falou como era a convivência aqui [centro socioeducativo], o seu dia a dia, que se dava bem com as pessoas e que a psicóloga tomava conta dele”, disse.

Notícias – Mateus é tímido e relembra fragmentos do que passou na infância. A sua forma favorita de se expressar é por meio da escrita, inclusive ele é bastante elogiado pelos profissionais que dão aulas de reforço no Centro Socioeducativo Senador Raimundo Parente e também é um dos destaques no tênis de mesa, o ping-pong.

No dia que reencontrou as irmãs, ele escreveu uma carta em que relatou a sua felicidade e também disse que recebeu uma notícia triste, a perda da sua tia-avó, falecida há dois anos. Em trecho do texto, Mateus escreveu o seguinte: “Eu acredito que eles vão reencontrar toda a minha família. E também agradeço toda a equipe do centro socioeducativo. Peço que proteja todos que trabalham aqui”, escreveu o adolescente, que sonha em ser um advogado e ter um novo projeto de vida ao lado das irmãs.

Espaços – Atualmente, a Sejusc coordena cinco centros socioeducativos: Senador Raimundo Parente, Dagmar Feitosa, Semiliberdade Masculino, Centro de Internação Feminina e Unidade de Internação Provisória Masculina e Feminina.

Fotos: Raine Luiz / Sejusc

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