O distanciamento social e o uso de máscaras pela população têm se mostrado eficazes na contenção da pandemia de Covid-19 em Manaus, mas o afrouxamento das medidas de restrição, neste momento, poderia levar a um novo pico de casos no mês de junho. Essa foi uma das conclusões de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e apresentado ao Comitê de Crise estadual, nesta semana. O Governo do Estado levou em consideração esses e outros dados na decisão de prorrogar a suspensão de atividades não essenciais até o dia 31 de maio.

Segundo o doutor Alexander Steinmetz, do Departamento de Matemática da Ufam, o estudo “Curva Epidemiológica da Covid-19 em Manaus” foi solicitado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam) e teve a colaboração de professores das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de São João del-Rei (UFSJ-MG).

“Nossa metodologia é um modelo matemático compartimental, muito comum em epidemiologia. Basicamente, dividimos a população em diferentes ‘caixas’, como a dos suscetíveis à doença, a dos infectados e a dos recuperados. A partir daí, estudamos os fluxos e a velocidade com que as pessoas passam de um estado a outro, o que nos dá parâmetros sobre o comportamento da doença”, explicou Steinmetz.

De acordo com ele, as estimativas se baseiam em dados de óbitos do Registro Civil e dos sepultamentos em Manaus. “Foram feitos poucos testes no Brasil, por isso resolvemos não trabalhar com os dados de testagem, e sim com os de óbitos, que nos dão um parâmetro mais confiável e próximo da realidade. Incluímos não só os óbitos confirmados por Covid-19, mas também aqueles por doenças respiratórias que estão acima da média mensal”, acrescentou.

Entre outras conclusões, o estudo aponta que a adesão das pessoas ao isolamento social (cerca de 40%), o uso mais disseminado de máscaras e a melhoria na capacidade de atendimento nos hospitais da capital se refletiram na queda dos óbitos por Covid-19 verificada no início de maio, com uma gradual diminuição também nas infecções ativas.

“É preciso ressaltar que essa queda é muito incipiente e leve. Temos que observar a curva nos próximos dias, mas não recomendamos qualquer afrouxamento no distanciamento social neste momento, o que poderia levar a um novo aumento de casos, em decorrência do ainda grande número de infectados e da pequena porcentagem de recuperados”, ressaltou Alexander Steinmetz.

Diferentes cenários – Levando em conta a taxa de letalidade em relação à estimativa de pessoas infectadas (0,75%) e o tempo médio entre a exposição ao vírus e o óbito (18 dias), os pesquisadores estimaram em cerca de 85 mil o número total de infecções ativas pelo novo coronavírus, em Manaus, no dia 11 de maio.

O estudo avaliou, ainda, o comportamento da curva epidemiológica em diferentes níveis de distanciamento social, sempre combinado ao uso de máscaras pela população. Com o distanciamento mantido na faixa atual de 40%, a tendência é de diminuição lenta de infecções. No caso de um distanciamento com adesão de 60%, as infecções tendem a cair mais rapidamente, com previsão de diminuírem para menos de 40 mil no fim de maio.

A análise também estimou que, no caso de um relaxamento do distanciamento social (20%) a partir do dia 12 de maio, haveria uma queda inicial de infecções, mas com um aumento posterior e risco de um segundo pico da doença no mês de junho. Na hipótese de nenhuma medida restritiva a partir da mesma data, o total de infecções em junho seria superior ao do mês de abril e haveria mais óbitos.

Contato com o vírus – Para a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), Rosemary Costa Pinto, o estudo apresentado ao Comitê de Crise é importante porque permite estimar o total pessoas que foram expostas ao vírus em Manaus.

De acordo com ela, as estatísticas de casos notificados e confirmados representam uma pequena parcela da real prevalência da infecção. “Medidas de continuidade ou afrouxamento do isolamento social estão diretamente relacionadas ao quantitativo de pessoas que já tiveram contato com o novo coronavírus”, acrescentou.

FOTO: Diego Peres/Secom

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