Na terceira reportagem da série Educação na Floresta, edição Mamirauá, nossa equipe de reportagem vai mostrar o desafio de viver na várzea em uma área de conservação ambiental. Durante a cheia dos rios as águas muitas vezes alcançam e até ultrapassam o assoalho das casas, deixando rastros e prejuízos daqueles que não conseguem salvar seus bens e a produção. O turismo de base comunitária é uma alternativa econômica onde a consciência ecológica precisa falar mais alto.
Boca do Mamirauá foi onde aconteceram as primeiras reuniões que deram origem a reserva Mamirauá, 11 mil Kms² de floresta de várzeas protegidas. Mamirauá se destaca por ser a primeira unidade de conservação brasileira a tentar conciliar a conservação da biodiversidade com o desenvolvimento socioeconômico com as comunidades que vivem na região, pouco mais de 5 mil habitantes. O manejo do pirarucu, peixe Pré-histórico conhecido como bacalhau da Amazônia, garante o sustento de algumas dessas famílias, assim como a agricultura e o extrativismo, principalmente do açaí e da castanha. O manejo de árvores para a extração de madeira ainda é um desafio.
As várzeas amazônicas assim como outras terras alagadas pelo mundo são bastante produtivas, anualmente essas terras recebem uma carga de nutrientes trazida pelas águas. Quem vive nessas regiões precisa aprender conviver com o regime dos rios.
No tronco das árvores ainda estão as marcas da enchente passada, no ano anterior a cheia dos rios no Amazonas alcançou níveis jamais registrados.
“Quando eu era criança não tinha essa enchente grande, era bem pouco. A gente ainda tinha planta pra tirar pra gente comer, e agora a gente planta e não colhe mais, não dá mais tempo de tirar as frutas”, diz dona Nilce Cavalcante.
Viver na floreta para além dos romances é uma aventura diária.
Doroteia é agente de saúde, conta que mesmo dispondo de uma lancha rápida os desafios geográficos são muitos. “O município que nós moramos é Uarini, mas daqui pro Uarini é três horas de viagem, é muito distante. É dor de cabeça, gripe e diarreia”, comenta a agente de saúde.
Apesar de viverem na beira do rio, a falta de água potável ainda é um problema para muitas comunidades, na Boca do Mamirauá os moradores bebem água da chuva, tratada com cloro trazida pela agente de saúde. “Eles colocam o cloro dentro da água, com 30 minutos ele pode tomar, é o tratamento que nós temos”, mostra Doroteia.
Doroteia conta que o calor amazônico é outro desafio. “A maioria do pessoal nessa época está no igapó”, conta.
Igapó é uma área da floresta que fica alagada. Na época das chuvas, as matas que estão na várzea ficam debaixo d’água.
Viver essa experiência cabocla é a proposta dessa pousada, uma típica casa ribeirinha que a Ruth abriu as portas para receber visitantes. “Trabalhar com turismo é, uma coisa boa. Só que por um lado é bom e a responsabilidade ainda é maior, porque não é só dizer vou querer o turista para trabalhar, mas sim ter uma responsabilidade ter uma segurança no trabalho”
Mamirauá tem outra pousada que trabalha com turismo comunitário chamado “Uacari” nome de um macaco que costuma ser visto em bandos na região, a pesca esportiva também atrai gente de várias partes do mundo. “A nossa preparação começa no mês de julho, a gente começa a entrar para dentro do lago para fazer a fiscalização do pirarucu, para outros pescadores de fora, de Tefé e Alvarães que sempre vem para pesca, então a gente vai pra lá, fazer a vigilância do lago e do peixe para que eles não possam ser abatidos, porque quanto mais o rio seca, mais eles vêm se acumulando no rio e no lago. Para eles não saírem de lá, a gente fica 24 horas trabalhando”, comenta o pescador Paulo Martins.
No próximo episódio você vai conhecer a comunidade Punã, uma vila com Internet, alojamento e um casarão cheiro de história. Vamos contar como foi a formatura de um curso técnico de Gestão em Desenvolvimento Sustentável, uma festa emocionante que coroou o esforço de 46 alunos de 9 comunidades da reserva Mamirauá. Eles garantem que não são mais os mesmos depois dessa formação que teve como foco a liderança e o empreendedorismo verde.

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