O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reverenciou os pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) ao anunciar que o governo brasileiro vai inserir a cloroquina no protocolo de tratamento de pacientes com o novo coronavírus em hospitais e disponibilizar o produto que hoje é usado no tratamento de malária.

Ao falar dos estudos que estão sendo feitos sobre a eficácia do tratamento e a observação dos efeitos colaterais, Mandetta citou a expertise dos pesquisadores do Amazonas. “…já que o Brasil tem uma das maiores áreas do mundo de incidência de malária, principalmente lá da turma da Fundação de Medicina Tropical, de Manaus, que tem uma vasta experiência, são aquelas pessoas que sabem como ele se comporta…Então o nosso protocolo foi feito com o que o Brasil conhece, da maneira como a gente trata, pelo tempo que a gente trata e tem que ser monitorado”, afirmou.

É de iniciativa dos pesquisadores da FMT-HVD uma das pesquisas aprovadas, na semana passada, pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Cone) para testar a cloroquina em pacientes com a Covid-19. O estudo, que teve o aval do Governo do Amazonas, tem a parceria da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) e da Fiocruz.

O governador Wilson Lima aprovou a realização dos testes do “CloroCOVID19”, os quais já estão sendo feitos nos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital Delphina Aziz, na zona Norte, diagnosticados com a Covid-19.

Inicialmente, o produto está sendo disponibilizado pela FVS. “A FVS disponibilizou os comprimidos (de cloroquina), considerando que são medicamentos utilizados na nossa rotina para o tratamento de malária e o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) fez o diagnóstico inicial desses pacientes e vai fazer o monitoramento durante o tratamento. No sétimo dia de tratamento, o Lacen vai coletar novamente amostras para que nós possamos realizar o exame e ver a carga viral, se a quantidade de vírus diminuiu, se acabou, se está negativa ou não”, pontuou a diretora-presidente da FVS, Rosemary Pinto.

Rosemary explicou que se trata de uma pesquisa clínica de efetividade de um medicamento e que a indicação é para que não se trabalhe com pessoas assintomáticas ou com poucos sintomas. Os testes são realizados em pacientes que estão internados, com quadros agravados, precisando de tratamento de UTI.

Pesquisas – Estudos realizados na França, China e Estados Unidos têm demonstrado que o uso da cloroquina apresenta potencial para promover melhora do quadro clínico de pacientes acometidos por Covid-19 em estado grave. No Amazonas, a pesquisa é liderada por Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, pesquisador do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

“Existem vários estudos no mundo. Os chineses estavam com 23 estudos em andamento, tiveram que parar porque os pacientes de lá acabaram. Então, agora que a epidemia chegou aqui é que a gente no mundo ocidental está tentando fazer os primeiros estudos. Há outros estudos que estão acontecendo em paralelo, o que é bom, porque se um estudo mostra um resultado e outro não mostra, se os resultados estiverem conflitantes, a gente vai poder ter essas informações todas para dizer para o poder público se deve ou não usar a medicação”, observou o infectologista.

O médico explica que a cloroquina é uma medição sintética que foi desenvolvida há 70 anos. O remédio é produzido em laboratório e foi elaborado especificamente para ser usado no tratamento da malária. “O que a gente está tentando identificar agora é se ela tem uma ação e também se ela tem poucos efeitos colaterais nesses pacientes. Lembrando que a grande parte da população que vai ser acometida por Covid-19 de forma grave é de idosos, que já têm problemas cardíacos. Então é muito importante que a gente acompanhe a alteração cardíaca no idoso, que já é cardiopata, tem doença cardíaca e vai usar uma droga que causa arritmia”, enfatizou Lacerda.

Ação do medicamento – A administração da cloroquina nos pacientes com Covid-19 tem sido feita via oral. “A cloroquina é uma droga que se concentra muito bem em todo o corpo, mesmo por via oral. Então, quando a pessoa ingere o comprimido, ela tem uma rápida distribuição por todo o corpo. Essa é uma vantagem da droga, não fica em um só tipo de tecido, ela vai para todos os tecidos. Isso facilita a ação sobre vírus que estão espalhados por todos os tecidos, inclusive pulmão, onde prevalece a doença do coronavírus”, disse Marcus Lacerda.

O médico infectologista faz um alerta para as pessoas que idealizam a cloroquina com a finalidade de profilaxia, ou seja, para prevenir o contágio do coronavírus. “Em relação a isso, não existe nenhum estudo. A cloroquina que é usada para a malária já é uma droga controlada, tem acesso restrito, só é prescrita e distribuída para pessoas com diagnóstico de malária”, ressaltou.

Análise – Uma equipe de aproximadamente 20 pessoas, entre farmacêuticos, biólogos, químicos e outros profissionais da Fundação de Medicina Tropical, é responsável por estudar amostras de sangue dos pacientes com coronavírus, que vão receber doses de cloroquina, para prever possíveis reações ou efeitos colaterais a partir do uso do medicamento.

Os estudos para atestar a eficácia da cloroquina contra o Covid-19 devem ser ampliados para outros estados do Brasil. “A gente deve expandir esse estudo para outras cidades e capitais do Brasil, para acelerar os resultados, e a gente está analisando isso praticamente todos os dias. Ao primeiro momento em que tivermos uma evidência de que essa droga vai funcionar, o estudo será interrompido e a gente vai fazer essa publicação para todo o mundo”, garante o infectologista Marcus Lacerda.

Foto: Edson Aquino/Secom

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