Na segunda parte da série Incentivo Floresta Sustentável em tempos de mudanças climáticas, saiba como projetos de inovação desenvolvidos no Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA) estão transformando o potencial da floresta em novas oportunidades econômicas.
As iniciativas envolvem bioinsumos e tecnologias de ponta que aprimoram produtos locais e estimulam uma economia de baixo carbono. A proposta é simples, mas poderosa: aliar ciência, mercado e preservação ambiental.
A Amazônia, muitas vezes vista apenas como fronteira de proteção ambiental, se revela também um território fértil de conhecimento e inovação. Transformar castanhas, frutos, fibras e micro-organismos em produtos alimentícios, cosméticos, farmacêuticos ou bioinsumos significa ir além da extração — é agregar valor, gerar renda para comunidades ribeirinhas e conservar ecossistemas.
Um dos destaques do CBA é a “Cozinha Experimental”, espaço recém-inaugurado no Núcleo de Produtos Naturais. Mais do que um laboratório, o ambiente funciona como plataforma de transformação, onde pesquisadores testam fórmulas alimentícias com insumos amazônicos como a castanha-do-brasil e o tucumã. Durante a inauguração, degustações mostraram o potencial de mercado desses produtos sustentáveis.
De acordo com Isabel Dinola, gerente do Núcleo de Produtos Naturais do CBA, o projeto tem como base a valorização de espécies nativas com foco em alimentos.
“A iniciativa nasceu da ideia de agregar valor a espécies amazônicas e já conta com projetos aprovados em órgãos de fomento, como o CNPq e a Fapeam”, explicou.
O apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) foi decisivo para a compra de maquinário e estruturação do primeiro projeto da Cozinha Experimental.
“Com os recursos, conseguimos adquirir equipamentos, reformar o laboratório e implementar cabines sensoriais. O primeiro projeto envolveu o desenvolvimento de formulações de chocolates com insumos amazônicos, abrindo caminho para novas pesquisas com café solúvel, colágeno de pescado e açaí”, detalhou a pesquisadora.
A proposta agora é ampliar o leque de produtos.
“Queremos continuar desenvolvendo novos alimentos a partir de insumos amazônicos, aperfeiçoar processos e introduzir novas tecnologias”, acrescentou Isabel Dinola.
A Cozinha Experimental abre espaço para que empresas de alimentos explorem sabores e texturas únicas, aliando inovação e sustentabilidade. É parte de uma cadeia de transformação que conecta biodiversidade, conhecimento local e capacidade tecnológica — os pilares da bioeconomia
amazônica.
Outro projeto de destaque é a parceria entre o CBA e a empresa Getter S.A., vencedora do Prêmio Finep de Inovação – Etapa Norte, na categoria Transformação Digital da Indústria. A pesquisa utiliza inteligência artificial e luz ultravioleta para controlar fungos que produzem toxinas em castanhas-do-brasil, tornando o alimento mais seguro sem alterar suas propriedades naturais.
O fundador da empresa, Rufo Paganini, explica que a tecnologia permite detectar e eliminar a contaminação.
“Desenvolvemos um equipamento que expõe as castanhas à luz UV, enquanto câmeras inteligentes monitoram tamanho, qualidade e características. Os testes laboratoriais comprovaram a eficácia do processo, que já possibilita exportação em escala global”, afirmou.
O impacto vai além da tecnologia.
“O mais importante é o efeito nas comunidades ribeirinhas e indígenas, que passam a ter mais renda e qualidade de vida. Isso contribui para que continuem cuidando da floresta”, destacou Paganini.
O empresário também adianta que a pesquisa deve se expandir para outros produtos regionais, como açaí e café, reforçando a ideia de criar usinas da bioeconomia amazônica — polos produtivos sustentáveis que geram riqueza e inovação.
Projetos distintos, mas unidos pela qualidade dos insumos regionais e pelo compromisso com o desenvolvimento sustentável, mostram que o CBA tem papel estratégico na transformação da economia amazônica.
Ao transformar espécies nativas em soluções tecnológicas e produtos de alto valor agregado, o Centro impulsiona o desenvolvimento regional e fortalece a bioeconomia local.
A parceria entre pesquisadores, empresas e instituições de fomento, como a Fapeam, garante recursos, bolsas e infraestrutura científica para que ideias saiam do laboratório e cheguem ao mercado.
Assim, a Amazônia deixa de ser apenas fonte de recursos — e se consolida como fonte de futuro, onde preservação, conhecimento e progresso caminham lado a lado.
Reportagem de Victor Litaiff | Edição Portal Encontro das Águas



