Objetivo é garantir suporte emocional a quem atua na linha de frente do enfrentamento à pandemia e acolhimento às pessoas em geral

O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), elaborou um Plano de Ações em Saúde Mental e Apoio Psicossocial para atender profissionais de saúde que atuam no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Por meio da estratégia, montada em parceria com o Conselho Regional de Psicologia 20ª Região (CRP-20), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), são oferecidos serviços como apoio emocional aos profissionais, além de acolhimento psicológico para a população em geral, por meio do aplicativo Sasi.

O trabalho vem sendo realizado desde o dia 27 de abril. Uma das principais frentes de atuação do plano é o apoio prestado por um grupo de aproximadamente 10 psicólogos via contato telefônico. O serviço é direcionado, inicialmente, às unidades da Rede de Urgência e Emergência, podendo ser estendido às demais unidades nas próximas semanas.

“O plano surgiu da ideia da gente dar suporte emocional aos profissionais que atuam na linha de frente, em especial aqueles que atuam na linha de urgência e emergência, com a proposta de reduzir o nível de estresse agudo que eles sofrem por conta de toda essa sobrecarga emocional vivenciada nesse momento de pandemia que a gente está passando”, explicou Helione Pontes, coordenadora interina estadual da Rede de Atenção Psicossocial.

Os profissionais atendidos são indicados pelas unidades de saúde. “A gente identifica o profissional a partir da lista encaminhada, principalmente aqueles que estão afastados. Fazemos a triagem selecionando os casos que são mais urgentes, que são aqueles que devem retornar ao trabalho com um tempo menor, com média de três a cinco dias. As equipes que estão nesse atendimento remoto fazem o contato, fazendo essa acolhida, escuta qualificada e identificam o nível de estresse desse profissional, escutam suas dificuldades, seus medos que, em princípio, são reações esperadas”, detalhou Helione.

“A gente sabe que, devido a essa sobrecarga, a gente pode desencadear alguns desconfortos emocionais, tipo insônia, ansiedade, medo de ser um vetor para sua família, medo da morte, o luto patológico, que é aquele que a gente vivencia e não consegue elaborar tudo isso. Todas essas reações aparecem nesse momento e podem levar a uma doença psicológica”, acrescentou a coordenadora interina estadual da Rede de Atenção Psicossocial.

Equipe de psicólogos – Os 10 psicólogos que têm prestado os atendimentos foram remanejados de unidades de saúde, como Centros de Atenção Integral à Saúde da Criança (CAICs), Centros de Atenção Integral à Melhor Idade (CAIMIs), que tiveram atendimento temporariamente suspenso ou reduzido por conta da pandemia. Mais de 400 atendimentos já foram realizados pela equipe, desde o dia 27 de abril.

Acolhimento à população – Além de atender os profissionais de saúde, outra frente de atuação do Plano de Ações em Saúde Mental e Apoio Psicossocial inclui atendimento gratuito direcionado à população, por meio do aplicativo Sasi, em parceria com a UEA.

De acordo com Sônia Lemos, coordenadora da Comissão de Saúde Mental da UEA, a proposta é acolher as ansiedades e tristezas dos cidadãos, em um momento que é necessário lidar, por exemplo, com o luto, além de todo o cenário de mudanças ocasionado pela pandemia.

“É importante explicar o que é esse acolhimento psicológico, é diferente de um acompanhamento psicológico ou de uma psicoterapia. O nosso atendimento tem o objetivo de ser resolutivo e focal naquele momento. Então, naquele tempo em que aquela pessoa está conversando com o profissional, a ideia é que ela receba orientações e desenvolva estratégias para lidar com aquilo que ela está sentindo naquele momento e possa utilizar isso naqueles momentos em que se sentir mais fragilizada, mais ansiosa e triste”, frisou Sônia Lemos.

Funcionamento – Um grupo de 30 psicólogos, entre cedidos pela Susam e voluntários que responderam à chamada do CRP-20 atende às chamadas feitas pela população, em uma base montada na Escola Superior de Ciências da Saúde da UEA, zona sul de Manaus.

“A pessoa vai acessar o aplicativo Sasi e vai fazer um caminho para ser atendida pela psicóloga, pelo psicólogo via telefone. Então, ela vai receber uma orientação para ligar para um número, esse número vai tocar aqui onde estão os psicólogos e ela será atendida”, explicou a coordenadora, ao enfatizar que, ao acessar o Sasi, basta utilizar o código “JUNTO” e selecionar a opção “Quero falar sobre minhas emoções”.

O atendimento funciona todos os dias, inclusive nos finais de semana, das 7h às 19h. Cada ligação dura em torno de 30 minutos. Desde o dia 27 de abril, quando iniciaram os trabalhos, 257 pessoas foram direcionadas para o atendimento via telefone.

“Nós temos recebido muitas pessoas com dificuldade do sono, com insônia, sintomas de ansiedade, algumas pessoas em situação de luto por perda de familiares. Então essas são as que mais têm acontecido ultimamente, aparecendo como demanda para a gente atender”, pontuou a psicóloga Etelma Brito, que compõe a equipe de atendimento à população.

Ela ressalta os benefícios do atendimento. “Ajuda no fortalecimento das emoções porque muitas vezes, quando a pessoa está em uma situação de muita ansiedade, ela apresenta muitos pensamentos que a gente chama de pensamentos disfuncionais, que não ajudam e que afetam o emocional. E quando você vai dando as ferramentas, aquilo que ela pode utilizar como estratégia para enfrentar essa situação no dia a dia, ela vai se tranquilizando e se sentindo mais segura. É um grande desafio, mas, ao mesmo tempo, nos fortalece, conforme a gente recebe o retorno das pessoas que a gente acolhe”, observou a psicóloga.

Fotos: Arthur Castro/Secom

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